Reestilização de uma Azaléia – Parte 1

por Fernando Magalhães

Rhododendron indicum – Flor Vermelha

Proprietário: Agostinho Evangelista Guedes
Texto e fotos: Fernando Magalhães

 

O material que deu origem a esse trabalho foi oriundo de uma coleta em uma fazenda de produção de plantas ornamentais nas proximidades da cidade de Ouro Preto. Após sua coleta e recuperação ela teve suas raízes lavadas para remoção da terra e foi plantada em um vaso redondo com boa profundidade para sua posterior formação.

Trata se de uma Azaléia muito especial com mais de quinze anos de trabalho, porem mantendo-a somente com uma manutenção básica, não passando por uma correta formação e estilização devido seu trajeto por coleções particulares diferentes nesse período.

Nos últimos três anos ela encontra se na coleção do amigo Agostinho que talvez seja o melhor momento para este exemplar, pois uma das maiores características desta pessoa é buscar o melhoramento incondicional de cada planta de sua coleção independente do tempo que leve para uma nova formação, podendo ainda pelo fato de se tratar de um colecionador com cultivo impecável nos possibilitando iniciar para uma reestilização até o final desta.

Lembro-me que algum tempo atrás em nossos encontros mensais de nosso clube, estava eu trabalhando uma planta e orientando um aluno quando ao mesmo tempo Agostinho estava ali no canto podando e desfolhando este Bonsai, foi quando surgiu à idéia de fazer uma mudança radical, pois mesmo ela já estando formada e com boa qualidade para um bonsai de azaléia ainda não apresentava seu melhor potencial.

Cerca de dois meses depois de plantado a idéia, resolvemos iniciar a reestilização. Desta forma a própria composição e mudanças poderão contar sua historia, seu desenvolvimento e momento de vida.

 

Outubro de 2011 – Primavera.

Frente Original – Alt.: 56cm


Close da base – frente original

Nova frete proposta.

Escolhemos a nova frente baseado nas características marcante deste ponto, como o Nebari(disposição das raízes), uma boa conicidade assim como o seu Urus(oco) natural. Não vamos nos preocupar com fortes galhos já existentes, pois serão reconstruídos novamente com melhor orientação aproveitando o momento desta reestilização.

Em toda azaléia chega um momento que é necessário realizar uma poda de compactação e recomeço, chamo de esqueleta.

Nesta etapa definimos o primeiro galho aproveitando a estrutura e conicidade existente de um dos galhos. Os demais galhos frontais foram podados mantendo um toquinho de cerca de 1 a 2 cm de comprimento, desta forma não criaremos grandes cicatrizes neste momento, assim permitimos que os canais de seiva seja redirecionados para os galhos restantes. Dentro de três meses poderemos eliminar por completo estes toquinhos sem correr riscos de fazer cicatrizes que não fecharão adequadamente, ou pior, causar a morte de veios pelo tronco.

Definido a frente, iniciamos as podas dos primeiros galhos.

Reduzimos radicalmente o antigo ápice, eliminando uma grande cicatriz no topo que nunca fechou. Podemos desta forma melhorando o futuro movimento e conicidade do Tatiagari(tronco) da planta. A nova cicatriza ficou entre vários galhos (primeiro galho, galho de profundidade e o ápice), o que a torna uma ótima cicatriz, com boas possibilidades de fechamento futuro, pois terá crescimento continuo de todos os pontos.

Close depois do processo de estilização.

Para um melhor desenvolvimento e crescimento desta planta aproveitamos a época e o trabalho de poda para transplantar, mudar o substrato assim como o vaso, que passa a ter uma maior profundidade, exigência necessária para uma planta com pouca dominância apical.

 

Maio de 2012 – Fim do Outono

Como podem perceber a planta obteve um excelente desenvolvimento em seis meses.

Está na hora de começar a aramar, selecionar os galhos e posicionar, para isso a melhor forma de poder visualizar e garantir o vigor da nova brotação será uma desfolha parcial, onde cortamos +/- 2 terços do limbo das folhas, como podem visualizar nas fotos abaixo.

Junho de 2012 – Início do Inverno

Após a aramação e 30 dias depois veja como ficou o trabalho, a formação do primeiro galho e a nova brotação, neste momento já é possível remover o restante das folha velhas da desfolha parcial. O ápice ira crescer livremente até a próxima estação para engrossar e ajudar a fechar as cicatrizes.